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Residente Non Grato

Residente Non Grato

Numa simples declaração de interesse – e facto irremediavelmente consumado – deixo claro que faço parte do grupo de pessoas que entrou nos quarentas. Não quero, com isto, que desatem a enviar parabéns ou que sintam pena de mim. Faz parte do ciclo da vida e, enquanto muitos começam a pensar na crise de meia-idade (justificação para a realização de alguns disparates amorosos ou financeiros), eu regressei ao fantástico mundo dos gritos e mudança de fraldas sujas quase a cada hora! Porque acredito nos valores familiares – e senti o apelo do nosso país sobre a baixa taxa de natalidade – resolvi, em conjunto com a mãe, embarcar nesta nova aventura, reforçando o meu legado neste mundo. Como papá babado tenho de partilhar convosco a alegria que sinto e como um pequeno ser – que apenas se preocupa com a barriga cheia e não tem qualquer problema em encher a fralda onde quer que esteja – altera as nossas rotinas. O que mais irrita, nesta fase da vida, é quando perguntam se é meu neto…

Como qualquer pai que se preze quero dar todo o conforto aos meus descendentes. Já que a minha habitação insiste em não crescer, resolvi perder dois dias para escolher uma agência imobiliária e avançar com o processo de troca de casa. Matosinhos tem acompanhado a minha cronologia desde que nasci e, talvez apelando à nostalgia, pretenda continuar por cá. Porém, os senhores que vendem as casas estão-se completamente a borrifar para as raízes sociais e, segundo sei, é na carteira que encontram a motivação comercial! O preço, por metro quadrado, tem aumentado mais que o valor dos combustíveis e, num ápice, chego à conclusão que devo sair do concelho para conseguir a casa que pretendo. Lamento admitir que tenho, como tantos outros, um problema de orçamento! Talvez por isso, tenha visto em folhetos verdadeiros pardieiros comercializados ao preço do Palácio de Sintra! Perderam o juízo… A mensagem é mais que clara: a cidade que me viu crescer estipulou uma espécie de quórum social do qual não faço parte. Digamos que, com o meu orçamento, consigo comprar um hall de entrada, um quarto, um wc e, com alguma sorte, um cantinho da sala. Mais nada! Como não vendem casas a retalho (nem o patrão avarento me aumenta o salário), tenho de considerar-me “residente non grato” e dar a vaga a quem tem mais dinheiro que eu. Coisa que não deve ser nada difícil…

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