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Uns filhos da Pátria

Uns filhos da Pátria

Ao contrário da Austrália – formada com os criminosos que a Inglaterra condenou e enviou para aquela ilha para fazer companhia aos cangurus e crocodilos – o nosso país recusa aceitar que, tal como os homens dos boomerangs, também tem um passado deveras sombrio. O ensino público encarrega-se de fazer perdurar uma espécie de fábula cor-de-rosa, tentando minimizar o que, de facto, fizeram os nossos antepassados. A começar no Rei que andou ao barulho com a mãe por causa dum pedaço de terra. E, como se não bastasse, ainda andou a cortar cabeças aos mouros porque quis o Algarve para gozar férias! Com os Descobrimentos enganamos os espanhóis para lhes sacar o Brasil (conseguimos telenovelas de jeito, mulheres desinibidas e treinadores a vencer a Taça Libertadores). Ultramar foi um capricho estúpido e, mesmo assim, foram cometidas atrocidades que não rezam nos livros de história. Finalmente, a máscara caiu e o nosso verdadeiro carácter revelou-se com a Covid-19…

A chegada apoteótica das vacinas trouxe esperança ao comum dos mortais. O Governo apressou-se a elaborar uma lista de beneficiários do líquido milagroso e, por incrível que pareça, tudo estava a correr bem. Contudo, a comunicação social (que tem um espírito indomável) começou a revelar alguns casos de pessoas que receberam a vacina indevidamente. E, caros leitores, quando estiverem a ler esta crónica serão muitos mais! O sistema de cunhas, compadrios e desenrasque – mais ou menos oculto, até aos dias de hoje – acaba por ser completamente desmascarado, revelando toda a arrogância e mesquinhez de um povo que se considera civilizado! A justiça (que teima em não ver) está completamente à deriva e ninguém sabe (ou quer) colocar um travão neste saque de vacinas; é como roubar doces a uma criança! Mas, há que perceber o outro lado: o senhor director manda vacinar a esposa, que precisa de vacinar a empregada de limpeza e o jardineiro; o cabeleireiro e a senhora das unhas. Afinal, como seria a vida glamourosa destes casais (da finíssima classe alta) sem estes trabalhadores qualificados?! Por via das dúvidas, é melhor vaciná-los…

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